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NUTRIÇÃO CLÍNICA O “vírus” dos transtornos alimentares está à solta
Pesquisa aponta alterações no comportamento
dos brasileiros durante a pandemia da Covid-19

São 7h da manhã de uma quarta-feira ensolarada em Belo Horizonte/MG. João está na cozinha do seu apartamento, preparando o café da manhã. O cardápio conta com pão de sal recheado com presunto e muçarela, uma xícara de café e uma fatia grande de bolo de chocolate, coberto com muita calda. A sanduicheira apita e ele leva os alimentos para a sala, que virou um escritório improvisado durante a quarentena. Computador ligado em cima da mesa, agenda aberta e começa a maratona de reuniões do publicitário com os clientes. Entre um intervalo e outro, é hora de comer algo. O lanche é uma fatia de pizza gelada pedida na noite anterior. Já são quase 12h e está na hora de pedir o almoço. Se você pensa que o entrevistado da nossa matéria pediu uma refeição mais leve, está enganado. A escolha foi um filé à parmegiana com muito purê de batata e uma lata de refrigerante. Ah, e não podemos esquecer da sobremesa: um pedaço de pudim. 

O relato acima, descrito por João* (a fonte pediu para não ser identificada) é muito característico do momento em que vivemos: o isolamento social obrigatório devido à pandemia do novo coronavírus. Se para alguns o confinamento desdobrou-se em exagero alimentar, para outros traduziu-se em agravadas restrições. É o que mostra a ConVid Pesquisa de Comportamentos, realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em parceria com as Universidades Federal de Minas Gerais (UFMG) e Estadual de Campinas (Unicamp). O estudo ouviu 44.062 pessoas entre os dias 24 de abril e 8 de maio de 2020 e procurou identificar a relação da quarentena com fatores como estado de ânimo, prática de exercícios físicos, consumo de álcool, cigarro e alimentos.

“Os resultados apontaram que uma grande proporção de pessoas relatou problemas psicológicos como sentimentos de isolamento, de tristeza  e de ansiedade. Inclusive, a prevalência de diagnósticos de depressão aumentou. Várias pessoas sinalizaram também problemas no sono. Em relação aos comportamentos saudáveis, houve uma grande diminuição da atividade física, aumento do número de cigarros entre os fumantes, crescimento no consumo de bebidas alcóolicas  e maior consumo de alimentos doces, como o chocolate. O sedentarismo aumentou muito com as pessoas passando horas sentadas em frente ao tablet ou computador ou então assistindo televisão”, afirma Celia Landmann Szwarcwald, pesquisadora titular do Laboratório de Informação e Saúde (LIS/Icict) e coordenadora da ConVid Pesquisa de Comportamentos.

Permanecer em casa trouxe algumas consequências para o jornalista e empresário Sandro Villas Starling, que já havia sido diagnosticado com um quadro de pré-diabetes e obesidade antes do início do isolamento social. “A ansiedade trouxe alguns reflexos como o aumento do consumo de bebidas alcoólicas. Quanto aos alimentos de uma forma geral, passei a beliscar mais fora dos horários das refeições. Isto tudo foi muito prejudicial e, assim que as cirurgias eletivas foram retomadas, parti para a redução de estômago na busca de melhorias para minha saúde”, relata Sandro. 

A psicóloga Fernanda Kalil, especialista em Transtornos Alimentares e Obesidade do Hospital das Clínicas/USP, explica que “como a ansiedade e os traços depressivos são sintomas subjacentes aos transtornos alimentares, eles tendem a se acentuar numa fase de estresse, na qual há incertezas sobre o dia de amanhã, insegurança e ansiedade quanto ao risco de contrair a doença e/ou perder entes queridos. Especialmente quando estamos dentro de casa, com mais alimentos disponíveis, cresce a probabilidade de descontrole alimentar e o medo do ganho de peso. Tudo isso gera um intenso sofrimento psíquico nessas pessoas. ”

Dados preocupantes

As informações colhidas pela ConVid refletem um cenário preocupante para a saúde da população brasileira, com grande diminuição da atividade física, aumento do número de cigarros entre os fumantes, entre outros. Cerca de 40% dos brasileiros apresentam dificuldades em grau moderado/intenso para a realização de atividades de rotina e trabalho. Em relação ao trabalho doméstico, mais de um quarto das mulheres (26%) relatou aumento intenso. 

Em relação à saúde como um todo, 29% da população achou que a sua piorou durante a pandemia. Entre os indivíduos com diagnóstico de depressão, 46% avaliaram que o quadro se agravou. 40% sentiram-se tristes, deprimidos, enquanto 53% sentiram-se ansiosos/nervosos frequentemente. 

O aumento do trabalho, aliado à piora na percepção da saúde física e psíquica, levou os brasileiros a alterações em seus comportamentos alimentares. Confira:

O peso do estresse

O isolamento social trouxe mudanças sociais, comportamentais e também na silhueta do publicitário João, que abriu a nossa matéria. Entre abril e novembro de 2020, foram adquiridos mais de sete quilos, em virtude do consumo de alimentos ultraprocessados e pedidos em aplicativos de delivery. A justificativa para esse tipo de alimentação foi o trabalho excessivo e a busca por praticidade.

Com o passar dos meses, as calças e as camisas começaram a ficar apertadas e então João tomou uma atitude: fazer atividade física em casa. Ele buscou a orientação de um profissional de Educação Física com os treinos virtuais e teve como desafio a adaptação do apartamento onde mora. “Mesmo com a prática de exercícios físicos em casa, muitas vezes usando o sofá como apoio ou os litros de leite como peso, a ingestão de calorias era muito maior do que o gasto energético. Ficou nítido para mim que era uma conta que não fechava, assim como as minhas roupas, infelizmente”.

Segundo João, além da piora nos hábitos alimentares, um fato que merece destaque foi a contaminação por alimentos pedidos em aplicativos de delivery. Depois de quase duas semanas com problemas intestinais, ele resolveu procurar um gastroenterologista. “Quando percebi que os sintomas não cessavam, decidi ir ao médico, que relatou ter atendido vários casos similares ao meu na pandemia. Ele explicou que fatores como a falta de medidas higiênico-sanitárias, desde o preparo até o transporte, podem gerar esse quadro. E fez muito sentido para mim, que agora preciso cuidar da minha microbiota intestinal com o uso de probióticos”.

A retomada de hábitos prejudiciais

Se para alguns, como os entrevistados acima, Sandro e João, as alterações psíquicas derivadas do isolamento social refletiram-se em compulsão alimentar, para outros acentuaram-se distúrbios pré-existentes, como a bulimia ou a anorexia. 

É o caso da dona de casa Amanda*, que preferiu manter seus dados em sigilo por sua família não ter ciência de sua condição. Para ela, o convívio com outras pessoas da sua residência gerou grande tensão. “Como mãe solteira, me vi obrigada a permanecer forte e no controle da situação. Sempre fui assim. Mas antes era mais fácil não tendo que estar 24 horas no posto de ‘liderança’, pois as crianças saíam e eu podia relaxar. Me sentir vigiada o tempo todo tem sido estressante”, desabafou. 

Amanda conta que a bulimia nervosa, com a qual foi diagnosticada há cinco anos, piorou desde o início da pandemia: “Estou me sentindo muito pressionada. Tenho episódios de compulsão alimentar e, em seguida, me tranco para botar para fora o que ingeri. Mas até isso tem sido mais difícil estando com pessoas ao meu redor o tempo todo”. 

O que pode ser feito?

A psicóloga Fernanda Kalil explica que “a comida traz conforto, bem-estar, aconchego e alguns alimentos servem muito a isso. É o que tem sido chamado de ‘comfort food’. Os alimentos ricos em açúcar elevam os níveis de dopamina e serotonina, neurotransmissores que atuam no sistema de recompensa, prazer e bem-estar. Podemos dizer que a fissura pelos alimentos doces está relacionada a uma resposta fisiológica do corpo diante de situações de estresse”. 

“Realmente, a minha válvula de escape nesta pandemia foi a comida, principalmente os doces e as sobremesas. Acredito que foi uma forma de suavizar a falta de contato com os meus pais que estão no interior do estado, com os amigos ou até mesmo com a falta de um relacionamento. O trabalho passou a ocupar a maior parte do meu tempo e, por morar sozinho, nem sempre eu tinha disponibilidade ou disposição para cozinhar uma refeição saudável”, concorda João. 

O profissional apto a auxiliar para que se possa alcançar um equilíbrio na relação com a comida é o Nutricionista. “Existem fatores que podem estar agravando comportamentos alimentares menos saudáveis, como por exemplo a maior dificuldade na obtenção de alimentos frescos, cuja aquisição demanda saídas mais frequentes de casa, e a eventual redução na renda familiar por perda de emprego ou impossibilidade do exercício de determinadas ocupações, limitando a compra de alimentos como frutas e hortaliças”, ressalta Daniela Corrêa  (CRN-9 1798), Nutricionista docente do Curso de Nutrição na Universidade Federal de Juiz de Fora, campus Governador Valadares (UFJF/GV). A profissional dá orientações fundamentais para que os prejuízos possam ser minimizados:

Ao ser questionado pela reportagem sobre os impactos negativos referentes aos próprios hábitos alimentares, o publicitário João se mostra consciente e crítico. Entretanto, pondera que algumas mudanças são lentas e graduais e que o seu foco é a saúde. “Eu sei que engordei e não estou satisfeito com isso. Mas estou tentando lidar da melhor maneira, buscando as estratégias adequadas, como a terapia e a atividade física. O meu próximo passo será buscar uma Nutricionista. Inclusive, foi uma recomendação médica que acho que todos na mesma situação devem seguir”, relata. 

*Nomes fictícios

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