Promover mudanças e quebrar paradigmas para oferecer avanços na promoção da saúde. Embora estes não sejam requisitos para as profissões de Nutricionistas e Técnicos em Nutrição e Dietética (TNDs), os mesmos dialogam diretamente com as atribuições desses profissionais.
Em 2020, esse aspecto se tornou ainda mais evidente com a atuação dos mesmos na linha de frente do combate à pandemia da Covid-19. É o caso do TND Israel Alves da Silva (CRN-1 T-671), servidor do Hospital Regional de Taguatinga, no Distrito Federal (DF).
Com formação em Técnico em Nutrição e Dietética e em Tecnologia da Informação, o profissional criou um aplicativo para que o “Núcleo de Nutrição Dietética” da instituição fizesse seus registros por meio digital. Essa mudança reduziu a possibilidade de contágio pelo novo coronavírus e agilizou processos no hospital, sendo usado por toda a equipe.
Inquietude para transformar

Israel ocupa o cargo de servidor público da Secretaria de Saúde de Taguatinga há sete anos. Desde 2018, o TND trabalha no hospital da cidade. Com quase 15 anos de experiência na área da saúde, o profissional não imaginava que poderia juntar esta expertise com os conhecimentos em tecnologia. E não é que essa combinação deu muito certo?
Com a pandemia da Covid-19 e a necessidade de estratégias para evitar a propagação da doença, Israel notou que as atividades do setor de “Nutrição Dietética” do hospital faziam muito uso de ferramentas analógicas, que passam de colaborador para colaborador, como pastas, formulários, fichas e outros documentos, além da utilização compartilhada de computadores, telefones, entre outros materiais. Dessa forma, o TND decidiu empenhar-se para a migração desses processos para o meio digital, com o desenvolvimento de um aplicativo. O objetivo era contribuir na prevenção da contaminação e otimizar os trabalhos, como o acompanhamento dos pacientes ou a fiscalização do serviço de alimentação do hospital.
Do papel para as telas

Os desafios para criar um app eram inúmeros. O primeiro passo foi realizar um diagnóstico e ouvir as percepções dos colaboradores do hospital. Estas informações seriam fundamentais para o desenvolvimento de uma ferramenta que funcionasse no dia a dia.
Após isso, Israel passou a procurar formas de desenvolver o aplicativo com uma interface simples e objetiva para os usuários. Assim, uma das primeiras definições foi a de que a ferramenta deveria estar disponível não só em smartphones, mas também em computadores.
O aplicativo possui três funcionalidades principais.

As informações são fornecidas pelos próprios servidores e pelos pacientes e, para isso, QR codes que direcionam para um formulário foram inseridos no refeitório e outros espaços da instituição. Para preencher, basta apontar a câmera do celular para o código e inserir as informações, ao invés de buscar uma ficha de relatório física que seria armazenada e somente levada em consideração quando fosse feita uma análise do serviço. Outro avanço implementado pelo aplicativo é a possibilidade de incluir arquivos, como fotos e vídeos das ocorrências no próprio formulário.

Para Israel, isso tudo se traduz em um uso eficiente dos recursos: “O serviço de alimentação do nosso hospital, que é um dos maiores do Distrito Federal, preza sempre pela qualidade na prestação de serviços para os pacientes. Com a ferramenta, nós podemos ter uma comunicação mais rápida com a empresa terceirizada com a qual temos um convênio, que também recebeu acesso aos dados. Isso se traduz em uma resposta rápida aos problemas encontrados e na atenção ao bom emprego de recursos nos serviços de alimentação”.
Hoje, diariamente, cerca de 60 funcionários do hospital fazem uso direto da ferramenta e entre 15 e 20 a acessam indiretamente, como os pacientes que não têm o aplicativo instalado no celular, mas preenchem os formulários que estão conectados com o app.
Uma das pessoas que mais viu seu trabalho ser transformado foi a Nutricionista Adriana Lustosa (CRN-1 6345), que exerce chefia do setor de Nutrição há cinco anos. Ela acompanhou todo o processo de desenvolvimento do app e relata que a ferramenta tem ajudado muito: “Anteriormente, eu só tinha acesso a todos os dados, ocorrências e notificações no final do mês. Agora, temos mais agilidade em receber reclamações, fazer ajustes e até elogios.”
Mudar e seguir em frente

É claro que um avanço tão significativo não viria sem alguns desafios. Alterar boa parte da rotina do setor de “Nutrição e Dietética” do hospital do analógico para o digital exigiu esforço tanto no próprio desenvolvimento da ferramenta, quanto em convencer de que este era o caminho ideal a se seguir para a prevenção da transmissão do coronavírus. E, depois, houve a capacitação do corpo de colaboradores para a utilização correta e eficiente da nova plataforma.
Tudo isso ocorreu em meio à pandemia, ou seja, a maior parte dos treinamentos aconteceu de forma remota. Para facilitar, foi produzido um manual com diversas informações e exemplos de como empregar o app no trabalho. Israel conta como foi o processo de adequação do aplicativo: “No início, sempre tem aquela resistência a algo que é novo. Mas fomos acertando e superando por meio de conversas, reuniões e, hoje, temos claro que a ideia é trabalharmos juntos, crescermos para melhorar o serviço público oferecido.”
Para a Nutricionista e conselheira do CRN-9, Emanuelle Zibral (CRN–9 12234), a integração entre Nutricionista e TND é capaz de gerar inúmeros benefícios para os serviços de alimentação, como o app desenvolvido por Israel. Trabalhando na área de alimentação coletiva há nove anos e em conjunto com uma equipe de seis técnicos, Emanuelle considera que o TND é importantíssimo para a inovação nos serviços de Nutrição: “Trabalhar com TND’s é estar ao lado de profissionais que continuamente se reinventam e buscam melhorias dentro do setor, prezando sempre pelo desenvolvimento da equipe. O Técnico e a Técnica em Nutrição e Dietética tem a capacidade de apresentar uma visão sistêmica dos processos em qualquer área que atuem e as habilidades e competências individuais são diferenciais para a melhora dos fluxos e das rotinas dentro da unidade, como fez o Israel”.
Emanuelle Zibral reconhece e valoriza o trabalho desenvolvido pelos TNDs, independente da área de atuação. Confira a fala da Nutricionista sobre o aplicativo desenvolvido pelo Israel.
Esforço recompensado

Todo o trabalho relacionado ao aplicativo, Israel desenvolveu em paralelo com suas outras funções de Técnico em Nutrição e Dietética. Além disso, o profissional realizou a iniciativa totalmente sem custos ou aportes do hospital ou Secretaria de Saúde, usando toda a sua experiência na área e a vontade em transformar a realidade do seu trabalho. Atualmente, a ferramenta ainda demanda atenção do profissional, que, além de realizar a manutenção do serviço, também estuda a possibilidade de inserção de novas funcionalidades.
Para Israel, isso não o incomoda, pois, segundo o mesmo, “a sua principal intenção é deixar o legado da melhora na eficiência nos serviços de Nutrição”. Alguns outros hospitais já demonstraram interesse na ferramenta e o técnico mostra-se disposto a conversar com a Secretaria de Saúde, caso seja a intenção expandir a ideia para toda a rede pública.